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Quintas: Memória e Atualidade
Naquela noite
Houve quem fugisse a tempo.
Houve quem ouvisse os gritos dos seus e não pudesse fazer nada.
Houve quem andasse de candeia na mão no escuro, às voltas, mas tivesse de esperar pela manhã.
Houve quem fugisse por telhados.
Houve quem esperasse nas árvores, agarrados a algo no escuro, molhados, desesperados, esperando que a madrugada trouxesse o dia.
Houve aqueles que a água engoliu, aqueles que a água levou, aqueles que em vão tentaram achar a saída e deixaram as suas mãos marcadas a lama e a desespero nas paredes das casas. Houve aqueles que de manhã procuraram os seus no lodo, aqueles a quem a noite e a lama roubaram as suas vidas e aqueles a quem a vida nunca mais foi igual.
Quintas, nunca mais foi igual.
Veio a manhã e veio o silêncio, veio a dor, e a dor teve de ser silenciada à força.
Em Quintas o luto foi abafado, famílias inteiras foram despedaçadas pelas cheias na calada da noite e calados tiveram de fazer o seu luto.
Mas a memória do que aconteceu não morre, a lembrança dessa noite é transmitida de pai para filho, de mãe para filha.
Os seus mortos não morreram naquela noite, vivem para sempre nas suas vidas e para sempre serão recordados.